sábado, 5 de novembro de 2011

A proparoxítona eo Restart.

Fui a um lançamento de um livro, e enquanto esperava para a entrada dos autores para um bate papo e logo após uma sessão de autógrafos, fiquei ali no auditório, como não estava acompanhado mantive - me em silencio,  e como não podia deixar de ser com os ouvidos abertos escutando a conversa dos outros.
Muitas pessoas falavam mesmo tempo os assuntos mais diversos como: operação de redução de estomago, literatura, como o café expresso estava caro e logicamente uma boa história de briga de família, mais uma conversa em especial me prendeu a atenção.
Ouvi alguém falando que era fã do Chico Buarque, que possuía toda a obra do compositor (que não é nada modesta) e que Chico era um Gênio, concordei piamente, Chico dispensa apresentações e apreciações, mais o que me deixou aflito nesse papo cabeça foram duas coisas:
A primeira que esse fã de Chico Buarque tinha apenas dezesseis anos, fiquei feliz pelo bom gosto do menino, mais logo fiquei preocupado quando ele sentenciou aos seus ouvintes: “ Vocês sabiam que na musica Construção todas as ultimas palavras são proparoxítonas?”, imediatamente olhei para traz, fiz uma careta e pensei:“ Menino, vai ouvir Restart!!!!”.
Muitos metem o pau no som do Restart, eu também muitas vezes disparei contra os meninos, mais há pouco tempo parei para refletir sobre eles,  conclui em primeiro lugar que eles tem em média dezesseis anos. Portanto, ainda inexperientes e ao mesmo tempo são frutos do seu tempo, a banda é a fotografia perfeita de nossa futura geração. São internautas inveterados, criativos, auto-suficientes, tem personalidade forte, além de talentosos, carismáticos, falam de amor e ao contrário de muitos “véios”, sabem tocar ao vivo.
Mais, quero acentuar uma qualidade, eles são livres, isso mesmo, se vestem como querem, colocam um tênis cor de caneta marca texto, uma calça parecida com a do personagem Agostinho (interpretado por Pedro Cardoso), e uma camiseta roxa, alem do mais, jogam o cabelo para onde querem ( pois eles ainda o tem).
Temos a triste mania de achar que a nossa geração é melhor e superior, mais é um triste engano com cheiro de naftalina, pensem, éramos fã dos Menudos, acho que estamos evoluindo.
Restart encarna o que todos nós gostaríamos de ser para sempre, telentosos, autênticos, coloridos, bem sucedido, precoces, carismáticos, livres e jovens. Então, depois que eles se tornarem adultos terão muito tempo para pensar nas proparoxítonas de Chico.



           

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O melhor fracasso que já ouvi.

            Fracasso é sempre uma palavra complicada de se ouvir, é algo que nunca está dentro de nossos planos, ninguém traça metas, economiza ou trabalha pensando nessa possibilidade, nenhum empresário quer ouvir falar em falência, nenhum recém casado sonha com o divorcio, nenhum time joga pela derrota. Portanto, quando ouvimos a palavra fracasso batemos na madeira, sinalizamos o sinal da cruz e fazemos careta como se isso fosse coisa do além.
            Muito se discute sobre o valor do sucesso, palestrantes de motivação ensinam o caminho das pedras para que seus ouvintes desfrutem de vitórias e realizações, livros de auto – ajuda se multiplicam nas livrarias como uma coqueluche e conquistam novas vitimas com o sistema imunológico vulnerável a serem enganados.
            De uma coisa tenho certeza, assim como a morte, o fracasso é inevitável, uma maldição de que todos nós estamos predestinados, uma sina ou um carma destinado a todos os mortais.
            Por isso admiramos os vencedores e não os perdedores, emocionamo - nos com histórias de superação e não de conformidade, lemos biografias de quem chegou ao topo e não dos que se lançam a sarjeta, neste mundo não há lugar para quem tem a face marca pela varíola do fracasso.
            Mas, o que é fracasso? Como defini – lo? Podemos medi – lo? Encontramos mais um paradigma que temos que derrubar, um conceito que tem que ruir, desabar, desmoronar e não deixar pedra sobre pedra,  pois fracasso não é resultados pífios, fracasso é acreditar que nosso sucesso está na perspectiva e aprovação de quem nos vê.
            Em meados da década de setenta após se converter a uma religião mais maluca que ele, Tim Maia se tornou um careta, acreditava que os discos voadores iriam imunizar a humanidade ou será que era a leitura do livro? Sei lá, nunca entendi o Universo em Desencanto.
Bem, Tim deixou de usar drogas, falar palavrão, só andava de branco e acreditem, deixou de cobrar para fazer apresentações, todo isso para levar a mensagem contida no livro da imunização, essa fase racional foi sem duvida uma das melhores da sua carreira, mais dois anos depois o Tim radicalizou e nunca mais racionalizou.
            Logo depois de deixar a seita ele estava sem grana, totalmente quebrado, seria natural e obvio lançar coletâneas de seus maiores sucessos e organizar uma turnê com esses hitis, mais não foi isso que ele fez, entre outras coisas Tim organizou sua própria gravadora a SAROMA e vejam só, gravou um LP totalmente em inglês, foi ousado, criativo, talentoso e oportunista e o resultado? Fracasso.
            Tim e sua pequena e inexperiente equipe não sabiam nada do negócio, não tinham dinheiro e nem logística, os discos ficaram encalhados no estoque da SAROMA, pouco se viu nas lojas e nas rádios nenhuma musica chegou a ser bem executada. Se você acha que Tim se frustrou com isso enganou - se, ele se orgulhava de ter gravado o disco em inglês, dizia que foi a melhor coisa que fez porque realizou um sonho.
            O disco não vendeu, a critica nem lembrou, o publico não ouviu, os LPs impenaram, mais o tempo passou, hoje “Tim em inglês” (como é carinhosamente chamado o disco) é disputado por colecionadores que babam em elogios ao melhor fracasso que já ouvi em toda a minha vida.
            Talvez através do fracasso aparente se esconda o nosso maior sucesso.

Quanto vale o show?


 
“Quanto vale o Show?”, esta pergunta era feita todos os domingos a noite durante os antologicos anos oitenta, quando Silvio Santos apresentava o programa “Show de Calouros”, um espaço artistico democratico onde o candidato poderia mostrar seus talentos no palco, e de quebra quem sabe ganhar um premio em dinheiro depois de passar pelos jurados (Se é que Pedro de Lara e Sergio Mallandro podem se encaixar nesse oficio).
            Assim, atraídos pelo dinheiro, cinco minutos de fama ou apenas para abraçar o homem do baú ou mandar um beijo para familiares, as atrações se revezavam indo de mágicos a equilibristas, cantores de churrascaria e de chuveiro, gogo boys e transformistas, todos se esforçavam e faziam o melhor arrancando aplausos, risadas e justas vaias, e ao final vinha o veredicto: Quanto vale o Show?
            Fui ao lançamento do Livro: “Vida e Carreira, um equilíbrio possível?”, do filósofo Mario Sergio Cordella e o consultor corporativo Pedro Mandelli, o grande ápice da conversa com os autores foi justamente quando fora abordado o tema: quanto vale o seu trabalho? e assim seguiu as interrogações, Qual é o valor do nosso conhecimento? De nossas horas gastas que nunca mais voltarão? Da saúde? Da qualidade de vida? Da juventude? Pode ter certeza valemos muito mais do que ganhamos por oito, dez ou doze horas de mão – de - obra.
            Cordella e Mandelli me fizeram entender que a não sou rotulado ou pesado pelo meu holerite, existe algo mais intrínseco, um valor que somente eu posso enxergar, somente nós sabemos os sacrifícios, esforços e desafios que  enfrentamos para cumprirmos nossas tarefas e realizar nossos sonhos.
            Muitos andam se sentindo desvalorizados, ou seja, desprovidos de valor, aprendi com os autores que não podemos esperar este valor da empresa em que trabalhamos ou de qualquer instituição de que participamos, o meu valor é o que eu sou, e é pequeno pensar que um salário mensal é maior que isto.
Pois somente nós sabemos o real valor de nosso show.