sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A voz


A rede globo de televisão inovou novamente o cenário do entretenimento nacional  trazendo átona um modelo batido e enlatado dos EUA, o programa”  The Voices” programa este que se propõe encontrar “ A VOZ”, aquele artista que se torne um  fenômeno fonográfico, um vozeirão único, timbrado refinado, diferente e urgente.

Bem, observei  os candidatos e curiosamente todos possuem o mesmo perfil que prefiro soletrar para maximizar minhas palavras, A – FI – NA – DIS – SI – MOS!!!!!!! Então me pergunto: onde essas pessoas estavam? Onde se escondiam? Onde foram fabricadas? Será que sofreram alguma alteração no DNA? Tenho a impressão  que estavam todas confinadas em outro planeta  e vieram em um comboio sideral para encher os ouvidos de pobres mortais com as mais belas melodias.

Qual deles será o o campeão? Não sei. Então, quem será a voz? Eis que digo: ninguém. Sim, nenhum deles tem esse poder, por melhor que sejam a voz do Brasil é relativa, vivemos em um mundo cada dia mais mutante e transformador, tudo muda rapidamente,  nada fica estático,  tudo se transforma, se altera , se metamorfoseia.  E nessa mudança  tudo se torna breve, passageiro, vulnerável, grandes sucessos são amassados e jogados no lixo, passamos da fase do descartável e entramos na era do substituível, ou seja,  o descartável só da pra usar uma vez  e então deve ser  eliminado, a era do substituível e um pouco pior pois eliminamos o que ainda dá pra usar.  

Essa é a nossa realidade, somos substituídos mesmo  se a nossa voz ainda é audível,  podemos ganhar alguns programas mais em breve estaremos expostos  ao descaso. Ser a voz não é o topo, ser a voz é uma questão de compromisso com nossos valores, ideais e certeza  de dias melhores, isso é que falta, temos pessoas afinadas mais não temos pessoas comprometidas, ser a voz é saber falar com autoridade e ternura, e ser voz no deserto é não ter medo de ser politicamente incorreto,  é  ser transformador e inspirador sem microfone ou palco.

Isso poderá fazer de você a voz que o país precisa.

 

 

sábado, 13 de outubro de 2012

Deus da minha vida fica comigo...!!!!!!


Há algum tempo tenho tentado entender uma nova coqueluche, como essas doenças que se espalham e agente não sabe de onde vem e nem para onde vai, Thales Roberto simplesmente roubou a cena, suas musicas invadiram rádios e igrejas, nas redes sociais suas frases e refrões são postados como versículos ou filosofia religiosa indispensável.

Claro que comecei a ouvi – lo já pensando em escrever algo sobre ele, sei lá, a muito tempo o meio chamado gospel  não é balançado por algo inovador, ouvi, ouvi e ouvi e nada, me esforcei , tentei decorar suas letras e melodias e nada me vinha, ate que me veio um conselho salvador quando minha esposa  comentou com uma amiga que não gostava muito do Thales e ela disparou com firmeza: -  É porque você não ouviu direito!

Bingo!!! Realmente eu não ouvira direito, pois eu estava tentando procurar algo especial , diferente, inovador, inspirador e revolucionário e é exatamente isto que falta . Thales é um produto do seu tempo,  um figurão que vai ganhar muito dinheiro no que faz porque ele é a imagem de uma geração.

Ele canta bem? Resposta: canta, mais não encanta, seus rifes são batidos, seu swing técnico, sua poesia  pobre, não brinca com as palavras, não tem sutileza,  parte sempre para palavras sem efeito,  rustico, ele repete e repete e repete como um mantra do gueto nova-iorquino , os refrães não ficam na cabeça, não da vontade de aumentar o som, de cantar no banheiro ou de pegar  o violão e aprender a tocar.

É exatamente isto que o povo quer, alguém  que faz ate bem feito mais sem profundidade, que  compõe ate bem , mas suas canções não marcam o coração,  tem uma bela história de retorno as raízes religiosas  mais por menos de quatro dígitos no cachê ele não canta.

Thales é como os evangélicos  contemporâneos, bem produzidos, bem assessorados ,  escravos do marketing e da tecnologia, mais vazios como  um pastel de vento,  rasos como uma piscina infantil, desinteressante como um sermão romano, mais bem floreado e maquiado com coroas de louros.

Só me resta dizer: Deus da minha vida fica comigo...

 

 

 

 

Onde está o rei da cocada preta?


 

                Um garoto negro e pobre,   vivendo em um país com vários problemas econômicos sociais, um país sem oportunidades de emprego ou ascensão. Esse era o Brasil da década de quarenta  e cinquenta  e nessa realidade vivia o jovem Wilson que sem titubiar arrumou um emprego com Carlos Imperial quer era na época um tipo de Luciano Huck.

                A ascenção fora rápida, Wilsinho levava os instrumentos dos artistas e em pouco tempo já era o homem  de confiança do senhor Imperial, e nos estúdios de TV ele viu nascer talentos como Robertos Carlos, Tim Maia e  Erasmo Carlos, mais Wilson era mais que um assistente, ele era dono de um carisma absoluto,  um narigão que dava a ele um certo charme, um  molejo incrível, uma voz aveludada e um swing, há! Que swing sem igual, esse era Wilson Simonal.

                O negrão virou o primeiro pop estar do país, mais de trezentos shows por ano,  um sucesso atrás do outro, milhões de discos vendidos, fama, dinheiro, carrões e mulheres, estádios lotados e em uma época em que os sistemas de som eram primitivos e muitos cantores não gostavam de fazer shows ao vivo, ele vinha  e deixava o povo cantar.

                Simonal arrepiava, sabia chamar a plateia para uma interação, as pessoas não iam ve – lo cantar, iam cantar com ele, um país tropical abençoado por Deus é um hino cantado  no teatro  da Record, nos estádios de futebol e na casa de cada um cidadão de nosso pais, uma marca registrada que fez Wilson Simonal o Rei da cocada preta.

                Foi quando no final da década de sessenta a ditadura apertou a censura, então  necessitavam de  um bode expiatório, adivinhem quem foi o eleito? Ele mesmo, o nosso rei da cocada fora acusado por seu contador de delatar seus  amigos artistas, nada fora provado, mais fez de Wilson a primeira estrela cadente da constelação de artistas.

                A estrela cadente caiu no mar do ostracismo,  renegado, apagado da história, seus discos deixaram de ser presados,  sua forte imagem uma mera lembrança, todos se afastaram, como disse o cartunista Ziraldo: “Ninguém  o defendeu”, seja por medo ou por covardia, logo o rei da cocada preta estava sem trono, sem cocada e sem as pretas que o cercavam nas capa da revista cruzeiro.

                O ostracismo existe e nos ronda como um fantasma ou uma nuvem carregada de trovoes e raios,  quem não tem medo de ser esquecido, de ser abandonado pelos  filhos ou bandido do mercado de trabalho?

                Ostracismo pode ser o fim ou o recomeço, ele pode ser um meio, uma ponte,  um casulo  de metamorfose, um período de reflexão sincera, de voltarmos para dentro de nós e projetarmos novos parâmetros,  metas e objetivos, Ostracismo nos afasta de pessoas sem valor e nos próxima  de poucas que realmente são valorosas,  nossas mascaras caem, nossos personagens perdem a graça e fica apenas quem nos realmente somos. Então, encontramos no fundo da alma o sentido real de viver, o caminho para felicidade, verdadeiros valores, amores, medos, sonhos e impressões.

                Sabe, acho que o ostracismo não é tão má ideia assim.