terça-feira, 1 de novembro de 2011

O melhor fracasso que já ouvi.

            Fracasso é sempre uma palavra complicada de se ouvir, é algo que nunca está dentro de nossos planos, ninguém traça metas, economiza ou trabalha pensando nessa possibilidade, nenhum empresário quer ouvir falar em falência, nenhum recém casado sonha com o divorcio, nenhum time joga pela derrota. Portanto, quando ouvimos a palavra fracasso batemos na madeira, sinalizamos o sinal da cruz e fazemos careta como se isso fosse coisa do além.
            Muito se discute sobre o valor do sucesso, palestrantes de motivação ensinam o caminho das pedras para que seus ouvintes desfrutem de vitórias e realizações, livros de auto – ajuda se multiplicam nas livrarias como uma coqueluche e conquistam novas vitimas com o sistema imunológico vulnerável a serem enganados.
            De uma coisa tenho certeza, assim como a morte, o fracasso é inevitável, uma maldição de que todos nós estamos predestinados, uma sina ou um carma destinado a todos os mortais.
            Por isso admiramos os vencedores e não os perdedores, emocionamo - nos com histórias de superação e não de conformidade, lemos biografias de quem chegou ao topo e não dos que se lançam a sarjeta, neste mundo não há lugar para quem tem a face marca pela varíola do fracasso.
            Mas, o que é fracasso? Como defini – lo? Podemos medi – lo? Encontramos mais um paradigma que temos que derrubar, um conceito que tem que ruir, desabar, desmoronar e não deixar pedra sobre pedra,  pois fracasso não é resultados pífios, fracasso é acreditar que nosso sucesso está na perspectiva e aprovação de quem nos vê.
            Em meados da década de setenta após se converter a uma religião mais maluca que ele, Tim Maia se tornou um careta, acreditava que os discos voadores iriam imunizar a humanidade ou será que era a leitura do livro? Sei lá, nunca entendi o Universo em Desencanto.
Bem, Tim deixou de usar drogas, falar palavrão, só andava de branco e acreditem, deixou de cobrar para fazer apresentações, todo isso para levar a mensagem contida no livro da imunização, essa fase racional foi sem duvida uma das melhores da sua carreira, mais dois anos depois o Tim radicalizou e nunca mais racionalizou.
            Logo depois de deixar a seita ele estava sem grana, totalmente quebrado, seria natural e obvio lançar coletâneas de seus maiores sucessos e organizar uma turnê com esses hitis, mais não foi isso que ele fez, entre outras coisas Tim organizou sua própria gravadora a SAROMA e vejam só, gravou um LP totalmente em inglês, foi ousado, criativo, talentoso e oportunista e o resultado? Fracasso.
            Tim e sua pequena e inexperiente equipe não sabiam nada do negócio, não tinham dinheiro e nem logística, os discos ficaram encalhados no estoque da SAROMA, pouco se viu nas lojas e nas rádios nenhuma musica chegou a ser bem executada. Se você acha que Tim se frustrou com isso enganou - se, ele se orgulhava de ter gravado o disco em inglês, dizia que foi a melhor coisa que fez porque realizou um sonho.
            O disco não vendeu, a critica nem lembrou, o publico não ouviu, os LPs impenaram, mais o tempo passou, hoje “Tim em inglês” (como é carinhosamente chamado o disco) é disputado por colecionadores que babam em elogios ao melhor fracasso que já ouvi em toda a minha vida.
            Talvez através do fracasso aparente se esconda o nosso maior sucesso.

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