domingo, 11 de setembro de 2011

Um Banquinho e um violão


Sempre tive uma pulga atrás da orelha com os cantores de bares, aqueles caras que ficam a noite inteira com o violão, um microfone e uma pasta  plástica onde levam seu repertório, e ficam ali cantando baixinho todo tipo de sucesso popular em troca de um cachê que não paga uma porção de batatas fritas.
            Fico pensando: O que leva alguém a ser cantor de barzinho? Você já prestou atenção neles? Na maioria das vezes cantam horas e horas e não ganham nenhum aplauso, nenhum assovio, não o chamam de lindo, não tentam agarra – lo, ninguém mostra cartazes ou postes com suas fotos estampadas ( a não ser que a mãe de algum deles esteja na platéia) e,  ao final das apresentações simplesmente desligam os equipamentos, põe o violão na capa e vão embora, não há sessão de fotos, autógrafos, fãs clubes, não há ninguém. Mas, na próxima semana lá estão eles cantando e tocando e o ciclo recomeça.
            Acredito que não fomos preparados para sermos cantores de bares, pois todos nós sonhamos e nos preparamos desde pequenos para sermos POP STAR, queremos ser os ídolos e não coadjuvantes, quer uma prova disso? Todo menino que gosta de futebol sonha e deseja ser o artilheiro do seu time de coração, sonha em ser famoso e rico, sonha em ser ovacionado pela torcida e de ver sua imagem no FIFA SOCCER.
 Toda menina que sonha em ser modelo imagina – se linda desfilando nas passarelas do mundo todo, aplaudida e fotografada em seu glamour, sonham em ser capa de revista e aparecer nos programas de TV.
Aos treze anos quando entrei na aula de violão nunca passou pela minha cabeça ser cantor de barzinho, eu queria ser como os caras do Gunses’ Roses, ter uma banda que lotasse os estádios e recebesse um disco de ouro, mais ser cantor de bar? Sem chance!
            Mas hoje foi diferente, a pulga que estava atrás de minha orelha falou comigo, fui almoçar em um restaurante e lá estava ele, exatamente como já o descrevi: microfone, violão, pastinha de plástico e algo mais.
            E foi exatamente esse algo mais que me levou a refletir e agora admira – los, pois o cara para ser cantor de barzinho tem que ser muito talentoso, disciplinado e afinado, não lhe é permitido errar, pois se ele desafina ou esquece um acorde mesmo que ninguém esteja com os olhos voltados para ele vão perceber o erro e com certeza irá irritar o publico e talvez acabar precocemente com muitos jantares.
                        Cantores de bar tem que ser pessoas bem resolvidas, tem que saber para que veio, se mostrarem agradáveis, copetentes e digestivos. Pois não terão tapinhas nas costas, aplausos e não podem viver frustradas e deprimidas por causa disso.
Muitas vezes o reconhecimento vem de forma disfarçada e quase imperceptível e silenciosa, por exemplo: quando as pessoas ficam um pouco mais no bar, mandam bilhetes oferecendo alguma canção para alguém que amam, quando algumas pessoas ( na maioria alguns gatos  pingados) cantam junto mesmo baixinho ou quando mesmo inconscientemente voltam na próxima semana.
Cantores de bares sabem exatamente o que deve ser feito, cantar e tocar bem mesmo quando ninguém aparenta estar prestando atenção. Assim, para cantar em bar se faz necessário gostar muito do que faz e faze – lo com esmero e perfeição mesmo quando alguns viram as costas.
A verdade é que alguns nasceram para POP STAR e serão fenômenos em qualquer campo de atuação, são pessoas que tem o seu brilho próprio e vão se destacar por seu talento fora do comum, são os chamados: fora de série, por outro lado, cantores de bar parecem serem feitos em serie, cada boteco tem um, é por essas e outras que  talvez a maioria de nós nessa vida seremos cantores de bar, nunca receberemos os aplausos que desejamos, nunca ganharemos o salário que achamos justo, não vamos ter fãs clubes,não daremos autógrafos e  não vamos ser reconhecidos pelo grande publico e  ficaremos muitas vezes sozinhos gastando a voz no microfone e os dedos nas cordas do violão e com a certeza que os outros estão mais preocupados com seus chopps e porções de calabresa do que com nosso esforço.
Mas quando fazemos com paixão, dedicação, afinação, competência, honestidade, ensaio, transpiração e persistentemente seremos ouvidos, mesmo que pareça que vivemos em um mundo de surdos, sei que seremos ouvidos. Pois quando fazemos do nosso trabalho uma musica alguém ouvirá.
Há, lá no restaurante onde tive hoje o cantor tocou brilhantemente uma musica do Chico Buarque, cantei bem baixinho e quando vi as lágrimas correram em meu rosto, aquele cantor de bar hoje sem saber ganhou seu primeiro fã. Faça os seus.

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